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#reijin 1131
Ela pensava que a vida seria toda uma. Que o tempo nos unisse, nunca nos separasse. Pensava que o por do sol seria para sempre, e que todos os fins de tarde íamos aprender coisas novas, e esperar que escureça, sem pressa. Esperava ver as estrelas que não falam, nem precisam, que não mentem, nem estremecem, não assustam, nem desaparecem… e sabe que lá estão, ou suspeita.
Ela cresceu a pensar que não cairia da árvore, que a mãe nunca seria frágil, e que a música cigana nunca passaria de moda. E houve tempos em que ela queria que o bronzeado nunca saísse do corpo salgado, que o Agosto mancha de saudades, tantas que nem se lembrava da escola ou do resto do ano. Nunca soube se o azul é mesmo azul, ou se nós é que lhe chamamos assim, e todos concordam.
Caiu da árvore, e depois caiu a árvore, sem que tivesse a certeza se as estrelas estão mesmo lá. Viu nascer o sol, cada vez menos salgado, e todos os anos lhe doía mais a ferida de perder a árvore, do que a cicatriz de ter caído.
Todos os anos, estava mais longe o som do por do sol, o frágil do bronzeado, a moda do aprender. Mas ela não deixou de suspeitar.
Todos sabemos que o mundo estava todo errado e ela certa, mas a verdade é que há dias, em que por momentos, ao fim da tarde, consigo vê-la brincar. Consigo ouvir o mar cor-de-laranja. E acredito, que apesar de ela não ter a certeza se eu estou aqui, de ela não saber se os outros mentem, ou apenas não dizem que discordam, há coisas que nunca vão mudar.
Tenho a certeza que ela vai sempre tentar subir a árvore. Sei que ela não quer morrer sem cicatrizes. E sei que as estrelas estão sempre lá. Ou melhor, vou suspeitando.